sexta-feira, 13 de julho de 2012

Um novo Iêmen?


Foi esta a pergunta que Robert Grenier, ex-diretor da CIA, se fez a respeito de como terminará a situação de Mali se não houver uma intervenção militar externa (sobretudo dos EUA). Para quem não sabe, o norte do país está agora sob o comando de grupos terroristas e separatistas que venceram com muita facilidade as tropas do governo.

Há muito tempo os tuaregues estão revoltados com o governo de Mali e não seria uma grande surpresa qualquer revolta por parte deles. A "bomba" explodiu em janeiro deste ano, quando o Movimento Nacional pela Libertação de Azawad* (MNLA) levantou armas e contou com o apoio da organização terrorista Ansar Al-Dine (Defensores da fé) para tomar de assalto as cidades de Tombuctú e Goa. O exército malinês, fraco e mal armado, não pôde fazer nada e recuou ajudando os desabrigados que rumaram  em direção ao sul do país.

Neste ponto uma coisa precisa ficar muito clara: o MNLA jamais teria força e armas para conquistar estas duas importantes -porém não tão populosas- cidades. Portanto, o apoio do grupo terrorista foi fundamental. Ademais, o Ansar Al-Dine é um braço da cada vez mais forte Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), que pode não ter oferecido homens, mas deixou os insurgentes com um armamento muito superior ao do exército.

As reviravoltas não param por aí. Assim que o exército recuou e realmente não houve o que fazer, aconteceu uma disputa pelo poder entre as partes e, ao que parece, os salafistas ficaram no comando. Eles destruíram todas construções que não estavam de acordo com a sharía -incluindo a famosa mesquita Sidi Yahia-; obrigaram as mulheres a usarem véu; e, ao verem jovens de mãos dadas, forçaram o casamento entre eles.

Muitos devem estar se perguntado o que o governo fez. Este é um interessante questionamento. Os militares imploraram ao presidente Amadou Toumani Touré para armá-los melhor, mas o mandatário não deu tanta atenção ao clamores. Isso culminou em um golpe militar que teve um objetivo principal: chamar a atenção do mundo para o que estava acontecendo em Mali.

Não há como dizer que isso deu certo, porque a repercussão nem se aproximou daquilo que eles esperavam. Assim que tomou conhecimento do golpe, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) fez um pronunciamento ameaçando com duras sanções o país caso os militares não devolvessem o poder ao presidente ou organizassem novas eleições o mais rápido possível.

Amadou Konaré, tenente porta-voz dos soldados, tentou argumentar e pediu ajuda internacional (mencionou até mesmo uma intervenção militar) mas recebeu um sonoro não da CEDEAO, dos EUA e da (odiada) França, que há algum tempo foi palco de uma visita dos rebeldes separatistas de Azawad.

Enquanto ninguém decide ajudar Mali, fechando os olhos e fingindo que nada acontece, a situação só piora e o Ansar Al-Dine ganha cada vez mais força. Segundo o já citado Grenier, esperar para ver onde as coisas poderão acabar é a pior alternativa.

Pensando pelo lado dos EUA, é muito improvável que uma interferência direta aconteça por inúmeros motivos. Vamos citá-los: (1) a campanha de combate ao terrorismo de Obama atualmente é baseada nos drones e não mais sacrifica a vida de militares; (2) é ano eleitoral e outro conflito não seria tolerado pela maioria dos eleitores (principalmente democratas); (3) e, por fim, Irã e Síria são -com toda a razão- as grandes prioridades estadunidenses.

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