segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O regime de Assad está morrendo aos poucos

ESL em Aleppo. Foto de Ricardo Garcia Vilanova.

Não restam dúvidas de que mais dia menos dia o presidente sírio Bashar Al-Assad irá cair. Mas isso não acontecerá sem que ele lute até as últimas consequências. O que está acontecendo gradativamente, para seu desespero, é o número de baixas de militantes que estavam a seu lado. Segundo o El País, foram 40 deserções de pessoas que formavam o alto escalão do governo.

A mais recente delas foi nesta segunda-feira (06), quando o premiê Riad Farib Hijab anunciou que estava deixando o regime que chamou de "terrorista e assassino". Para piorar a situação, ele mostrou seu total apoio ao Exército Sírio Livre e disse que, em junho, quando foi nomeado primeiro ministro, aceitou o cargo unicamente porque Bashar Al-Assad o ameaçou de morte.

No entanto, este ainda não foi o golpe mais duro que a cúpula de Assad sofreu. Seguramente o atentado terrorista que matou, entre outros, o seu cunhado Bushra Asef Shawkat (um de seus homens de confiança e outro sanguinário) foi muito pior. Como mencionado aqui no Internationale Actuelle, tal atentado mostrou a fragilidade na segurança do presidente. Depois disso muitos chegaram a cogitar sua fuga para Latakia -local de origem dos alauítas- mas a agência estatal Sana desmentiu a informação.

Além disso, outro nome muito próximo de Assad que abandonou o regime foi o general  sunita Manaf Tlass. Ele era filho de Mustapha Tlass, que foi ministro da defesa e amigo de Hafez Al-Assad (pai de Bashar). Manaf era um general extremamente influente e sua saída foi um golpe para o presidente alauíta.

Reparem que até o momento os militares de baixas patentes nem sequer foram listados. Não há um número exato de deserções, mas centenas delas já aconteceram nestes 17 meses de intensos protestos e conflitos no país. O próprio Hijab levantou uma questão interessante: muitos -sejam políticos ou militares-  não se juntam aos opositores por medo. Mesmo o influente Tlass teve certo trabalho até conseguir se exilar e, antes disso, estava em prisão domiciliar.

Todos estes fatos indicam que pouco a pouco toda a cúpula que estava em volta do presidente está caindo. Ele está ficando cada vez mais acuado -tendo apenas o apoio efetivo do Hezbollah e do Irã- e ninguém sabe o que pode fazer em tais condições.

Por outro lado, podemos fazer uma leitura da oposição também: sua desorganização os impede de tomar o poder e instaurar uma democracia (se este for realmente seu desejo). Basicamente o ESL está muito fragmentado e mesmo que agora tenha armas (fornecidas por regimes como os da Arábia Saudita, Qatar e provavelmente Turquia) não tem condições de se firmar.

As duras batalhas que ocorrem simultaneamente em Aleppo (principal cidade econômica da Síria) e na capital Damasco deixa claro o caráter imprevisível do conflito. Há poucos dias os rebeldes foram expulsos de Damasco mas já voltaram a atacar a cidade inesperadamente. Em Aleppo não se sabe quem está vencendo. O único rumor mais forte é o de que o exército de Assad está preparando uma ofensiva para contra-atacar.

A pergunta que fica é a seguinte: quanto tempo mais Bashar Al-Assad vai resistir? Isso é impossível dizer. Inúmeras reviravoltas já aconteceram nesta Guerra Civil e provavelmente ainda acontecerão. Todo este despreparo rebelde pode indicar uma triste prorrogação no conflito.

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