quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Indiferença para Israel, maior moral para o Hamas e enfraquecimento do Fatah

Médicos palestinos comemoram o cessar-fogo.

Nesta quarta-feira (21) finalmente foi acordado um cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas. O acordo foi mediado pelo Egito e pelos Estados Unidos (Hillary Clinton viajou para o Oriente Médio nesta semana). O saldo foi de 167 mortos no total (sendo 162 palestinos), mesmice para o poder de dissuasão israelense e um fortalecimento do Hamas.

Assim como a operação Chumbo Fundido, comandada por Ehud Olmert, Pilar de Defesa não tinha como objetivo destruir o Hamas e ocupar a Faixa de Gaza, mas sim aumentar seu poder de dissuasão na região e reduzir consideravelmente, pelo menos por enquanto, o poder de fogo do grupo terrorista. Analisando os números, isso deu certo: foram mais de 1.500 ataques aéreos (sendo 19 em centros de comando superiores), 30 membros importantes dos grupos terroristas (considerando Hamas e Jihad Islâmica) mortos e centenas de lançadores de foguetes subterrâneos destruídos. Além disso, o sistema de defesa Iron Dome se mostrou extremamente eficaz, realizando 421 interceptações, o que corresponde a 84% do total de mísseis que penetraram Israel.

Mas se os números dizem uma coisa, por que algo tão distinto ocorre na prática? Como já foi mencionado aqui no IA, o Hamas ganhou um pouco mais de apoio após a Primavera Árabe e, querendo ou não, se fortaleceu consideravelmente nos últimos anos. O primeiro indício desta evolução foi justamente o alvo inicial da operação Pilar de Defesa, Ahmed Jabari. Ele não era um líder político, mas sim militar. Isso significa que Israel tinha plena consciência do perigo oferecido pelo grupo terrorista a seu território.

Ademais, muitos analistas acharam um tanto exagerada a importância que o governo de Jerusalém deu ao Hamas logo no início do conflito, falando diretamente ao grupo após ataques perpetrados por facções que podem ser consideradas como suas subordinadas dentro de Gaza. Mas a verdade é que Netanyahu foi correto em todas as suas atitudes, sobretudo esta, haja vista que a esfera de influências do Hamas realmente é bem maior do que a de quatro anos atrás.

Quando os boatos de cessar-fogo tiveram início, poucos poderiam imaginar que Israel aceitaria negociar com terroristas. Mas ao fim de tudo exigências foram atendidas. Destaque para a abertura das fronteiras para a circulação de bens e pessoas. Recordam-se que no último post comentei sobre uma possível abertura do terminal de Rafah? Pois então, o "palpite" de Ehud Yaari realmente estava certo e o Egito fez esta concessão aos palestinos. Ainda não se sabe até que ponto chegará esta abertura, mas já é um grande feito.

Quem não concordou muito com o cessar-fogo e suas condições foi a população israelense (além da oposição de Netanyahu, lógico). Segundo o Times of Israel 70% dos israelenses foram contra o acordo e apenas 24% se mostraram favoráveis. Ainda assim nada que, pelo menos por ora, abale as aspirações de reeleição do atual governo.

Ainda há opiniões um tanto controversas acerca do quão prejudicial foi o conflito para Israel. A unanimidade só gira em torno do significativo enfraquecimento da Autoridade Palestina frente ao Hamas. Para os palestinos, a forma como o Hamas resistiu (se é que o fato de se esconder covardemente atrás de civis pode se chamar resistência), foi quase heroica. A facção da bandeira verde ganhou total apoio da Cisjordânia, que se mostrou demasiadamente cansada com as promessas de Mahmoud Abbas e, principalmente, com a ocupação transfronteiriça ilegal de Israel. Ramallah ficou quase deserta nos últimos dias.

É importante que uma coisa fique bem clara: uma "derrota" do Fatah também pode ser prejudicial a Israel porque, a priori, o grupo é mais moderado e tem defendido um acordo de paz respeitando a fronteira de 1967. Como bem disse Richard Haass, presidente do Conselho de Relações Exteriores dos EUA, Israel deveria buscar na AP um aliado para intensificar o projeto de paz e colocá-lo, por fim, em prática.

Haass, que foi enviado pelos EUA para o processo de paz na Irlanda do Norte, disse que Israel deveria buscar no Fatah "a sua Irlanda do Norte". E tal observação é muito precisa. O problema é que agora, decadente como está, a AP não mais parece uma solução tão viável -e confiável- para o povo palestino. Devemos ter medo se o Hamas passar efetivamente a ser considerado esta "solução".

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